Giovana Cabral
“Não era amor, era cilada.”
E se eu desafiar você a ir até o final desse texto?
Foi-se o tempo em que os desafios eram vistos só pelas bandas do Nordeste. Seja através do repente, literatura de cordel, rodas de capoeira ou naquele encontro na frente da igreja entre você, seu inimigo e as armas de cada um. Saindo desse cenário do agreste estilo faroeste americano com adaptação de Auto da Compadecida, voltemos aos dias atuais onde os desafios são para que você exerça sua legalzice online.
Há tempos vejo desafios pipocando por todos os lados. Boa parte deles tem uma causa social envolvida que vira brincadeira para que a adesão seja ainda maior. No meio do caminho, como todo telefone sem fio, a mensagem acaba se perdendo absurdamente.
Todo mundo aqui já deve ter visto, ou melhor ainda, ter sido marcado no Lançai a palavra (com versículos da bíblia), no balde de gelo (#ALSicebucketchallenge), no desafio de beber duas long necks de cerveja ao mesmo tempo, postar foto do RG ou foto sem maquiagem (#stopthebeautymadness) e por aí vai. Todo dia tem um novo, não dá nem pra contabilizar, até porque todos estarão sempre muito ocupados tirando fotos ou gravando vídeos para provar que fizeram isso ou aquilo.
Quando existe a necessidade de prova, a causa não foi entendida de forma plena. Tem um amigo meu que administra um grupo no WhatsApp e que foi desafiado a se jogar um balde de gelo, caso contrário teria que pagar um churrasco pro restante dos integrantes do grupo. Será que alguém dentre eles sabia que a causa tem a ver com “É um balde de água fria saber que uma pessoa tem esclerose lateral amiotrófica?” Não. No final ninguém soube de onde veio o desafio, ninguém doou dinheiro para nenhuma campanha e muito menos aconteceu o churrasco. O administrador cumpriu o acordo.
Eu fui desafiada em alguns, não cumpri nenhum. Dia desses me desafiaram em um em que eu tinha que publicar um poema na timeline do FB e caso não cumprisse teria que pagar um livro para a pessoa que me lançou essa pegadinha. Escrevi no comentário “Venha buscar o livro”. Até porque o prazer de ter uma leitura completa é melhor que manter duas abas abertas do “Pensador“.
Caso haja um motivo relevante sobre o desafio, que não seja apenas para publicar fotos suas em selfies sem enquadramento, contribua para ele. O pessoal do Catarse tem desafios e propostas de vida bem diferentes dos vistos no Facebook. Aquilo sim vale um page view, pelo menos.
Em outro post, aqui mesmo no Pauta Livre, eu finalizei um texto considerando que “Seja numa rede social, num grupo fechado, de um like pro outro, ou em meia dúzia de linhas de alguma colunista caipira metida a engraçadinha, participar é bacana! Tenha argumentos pra defender a sua presença nessa diversidade digital. Faça valer o boleto da banda larga.”
E aí, você anda pagando suas contas em dia?
sempre fica devendo desafios, mas desafia todo mundo a cumprir a meta de não precisar se comprometer com nada.
