Título do Livro: Bolívar – O Libertador da América
Autora: Marie Arana
Editora: Três Estrelas
N° de páginas: 608
A figura de Simón Bolívar ocupa uma lendária posição na América do Sul, sendo frequentemente ressuscitada para fortalecer discursos e causas de diferentes grupos políticos. Somos bombardeados por termos como “bolivarianismo” (termo semelhante ocupa o nome oficial da Venezuela atualmente), mas os significados muitas vezes nos fogem do conhecimento e na ignorância reina a especulação infundada e raza.
Com tanto misticismo e especulação, já estava na hora de surgir uma biografia de peso sobre o sujeito que foi figura central na criação de boa parte dos países da América Latina. Bolívar – O Libertador da América, de autoria da jornalista peruana Marie Arana, chega em um bom momento para promover a difusão de uma análise profunda sobre esse ícone da independência e do ideal republicano.
Fato é que somos bastante leigos quanto aos aspectos históricos que fazem parte dos nossos vizinhos, mas somos ávidos para emitir juízos de valor. Temos algumas “razões” pra isso, a começar pelos nossos destintos processos de consolidação nacional: a independência do Brasil é considerada pacífica e não evoca traumas. Embora tenham havido atos de resistência e batalhas, estas não se comparam aos conflitos que foram deflagrados no restante da América Latina e na América do Norte pelas colônias que procuravam se desligar de suas metrópoles a todo custo.
Os Estados Unidos procuravam trilhar seu próprio caminho sem a Inglaterra e conseguiram se livrar dos britânicos em 1783, mas as colônias espanholas tardaram mais tempo, ocupando as décadas futuras com sangrentas lutas para se saírem do julgo da coroa. Bolívar entra no cenário como jovem diplomata, que toma contato com as ideais liberais de igualdade e liberdade na Europa e retorna para fortalecer as lutas de independência. Se somente essas ideias já eram revolucionárias para um tempo cheio de monarquias, Bolívar as levava ao limite por evocar uma América do Sul completamente democrática, longe da tirania e próxima do povo.
Sua biografia também evoca tempos conturbados, relatando a época da centralidade do poder em suas mãos e demonstrando traços despóticos contraditórios se comparados aos seus planos iniciais. Garantir a estabilidade das nações requeria entrar no jogo internacional de interesses que lhe entravavam as pernas e a alma. Bolívar foi, assim como todos nós, um homem de seu tempo; com olhares visionários que talvez exigissem mais da realidade do que ela estava disposta a prover.
A vida íntima e seus amores também nos são aproximados pela escrita factual, mas delicada de Marie Arana, nos mostrando facetas até então desconhecidas dessa emblemática figura histórica. Além da fluência na leitura, esta obra se mostra de extrema relevância não apenas para aqueles que querem saber mais sobre “o libertador”, mas também para os que buscam uma melhor compreensão de todo o cenário latino-americano em que vivemos.