E se eu amarrar o amor na chuteira gringa?

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Giovana Cabral

Doutor, eu não me engano…meu coração não aguenta um ano

Silvio Santos

 

Parece uma Lei universal.

Ao nascer, além da certidão de nascimento o rebento ganha também um time para chamar de seu. Isso pode ser motivado pelo pai, avô, irmão mais velho, padrinho ou até mesmo pelo tio do pavê.

O importante é que antes do primeiro mês de vida o novo habitante do planeta ganhe um macacão com um brasão estampado. Depois de uns 10 anos todos começam a sentir vergonha dos álbuns de família, menos aquele tio do pavê, é claro.

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É, nós já passamos por algo assim.

 

Na maior parte dessas histórias, que são renovadas a cada nascimento de novos condenados, a paixão/amor pelo time por imposição (ou sugestão) da família acaba virando uma verdade absoluta. Com o convívio num ambiente dominado pelo futebol e o acompanhamento das primeiras partidas, as crianças costumam dar aquele retorno ao investimento dos pais, seguindo o time por onde quer que ele vá. Na minha casa não foi diferente. Vocês não tem ideia do que é crescer num lar tomado por corinthianos. Não sei bem se há algo diferente no sangue deles ou no sangue de quem é fanático por algum clube. Os corinthianos, por exemplo, não aceitam nada como argumento e colocam o time num pedestal tão alto que para tirar de lá só mudando de família. E ninguém quer isso, certo?

Meus avós me livraram do fanatismo, mas minha mãe se casou com meu padrasto, um cidadão que chega a traumatizar de tão absurdo e escalafobético fascínio pelo time. Essa união me rendeu irmãos igualmente fanáticos e uma teoria de que casar com corinthiano é furada.

Tem gente que adoraria esse tipo de cenário, eu não julgo. Mas no meu caso, sem torcer pelo Corinthians e pela Seleção brasileira, poderia considerar perdido qualquer interesse por este universo. Mas eis que na Copa de 2006 eu comecei a ver as demais Seleções do mundo. Apesar de “ser Cabral” e instintivamente pender mais pro lado de Portugal, foi nesse Mundial que passei a prestar atenção numa certa Seleção que vestia azul. Quem chamou atenção para ela foi um goleiro absurdamente genial. Saltava na carreira em ótima fase, assim como saltava aos olhos pela inegável beleza. Gianluigi Buffon fez nascer em mim duas novas paixões:  a Itália e os italianos.

 

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Mia vera Squadra.

 

Por causa do Buffon eu conheci a Juventus, um dos mais antigos e tradicionais times da Itália, equipe onde me instalei definitivamente num quarto e sala entre as estrelas que ficam sobre o brasão. Tudo bem que as intenções com os italianos nunca foram lá muito desportivas, mas apesar de tudo sempre foram sinceras. Com o tempo passei a acompanhar e gostar dessa nova atividade. Isso pra mim virou algo natural: representava um clube e poderia falar sobre ele com propriedade e paixão.

Tomar outra bandeira para si faz com que as pessoas apontem o dedo na sua cara, mas o livre arbítrio é a salvaguarda dos que “resolvem” escolher. Não existe uma razão específica, existe um uniforme para o qual eu sirvo. Quando passamos a nos reconhecer nesse tecido aparentemente sem qualidade têxtil, significa que aquela lenda da magia do futebol está fazendo alguma coisa pela gente. Aí ficamos apenasmente™ com o favor da retribuição.

E foi assim. Desde então a Itália está comigo e eu estou com ela. Quando você olha o campo e finalmente entende o que se passa dentro dele, descobre um combustível que acende o grito de guerra da torcida e que justifica a busca desesperada por um streaming da partida ou por um ingresso num lugar desfavorável. Aí vale o troféu ganho, o gol perdido e o cartão levado. Vale inclusive o choro, este que é e sempre será livre.

E ao final você entende que esse amor não tem a ver com comemoração de título. Tem apenas e tão somente relação com a compreensão da goleada e do zero a zero.

Até porque, por dentro, nada muda depois do resultado.

vai morar em breve na Itália para se casar com por motivos de: “não há nada melhor do que viver em plena fantasia”, já dizia Willy Wonka.

 

Giovana Cabral

Apenas uma "small town girl" com contrações ventriculares prematuras. Blogueira nas horas vagas, cardiopata em tempo integral!
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  • Leandro Freire

    Gostar de times fora do Brasil? Sua hipster, geração playstation, coxinha, reaça, adoradora da cultura euro-americana…

    • Giovana Cabral

      Só lembrando que tu torce pro Uruguai, né malandro?
      hahahhaha PD: melhor hater!

  • Favoritando o texto pra mandar pros que vierem cagar regra “nasceu aqui? TEM QUE TORCER PRO BRASIL!”