Crítica Sinistra – O Palhaço

O Palhaço

Dias atrás fui ao cinema assistir a um filme nacional. Os comentários preconceituosos a respeito das nossas produções estavam presentes em inúmeras declarações das pessoas em volta: “Eu lá vou ver um filme do Selton Mello?”; “Gosto de filme brasileiro não, só tem favelado”. Alguns indivíduos conhecem tão pouco o nosso cinema que fazem dessas declarações verdades absolutas em seus grupos de amigos, outros simplesmente gostam de fugir da realidade em que vivem, preferindo ver na tela somente robôs se digladiando e cidades distantes que provavelmente nunca irão conhecer.

O Palhaço, dirigido, escrito e estrelado por Selton Mello, vem trazer para o público a realidade do interior do nosso Brasil, ao embarcar no Circo Esperança que alegra as pessoas nas tantas cidades que visita e se apresenta. Valdemar (Paulo José) e Benjamim (Selton) são os palhaços Puro Sangue e Pangaré. Também são, respectivamente, pai e filho. Aos olhos dos estranhos, tudo parece funcionar no mais pleno equilíbrio, até que Benjamim começa a ter uma crise de identidade onde acredita não ter mais graça como palhaço.

Benjamin enxerga novos horizontes, novas possibilidades e também pequenos desejos que suas condições financeiras não permitem realizar –  como ter um ventilador. Por onde passa, sua situação se aflora e se torna cada vez mais insuportável, fazendo com que nos lembremos de que todos nós precisamos de amigos por perto e de pessoas que também nos alegrem. “Quem alegrará o palhaço?” pergunta ele. “Eu faço os outros rirem, mas quem me fará rir?”. Para o grande público, o palhaço não tem nem o direito de sofrer.

Entre situações tensas e cômicas, encontros e desencontros, paramos para refletir sobre todas as pessoas que já cruzaram a nossa vida. Inevitável não prestar atenção no elenco encantador e não tentar se recordar de outros papéis realizados pelos atores em cena. Minha namorada e eu falamos ao mesmo tempo, inocentemente: “Olha, é o Zé Bonitinho!”.

Não tenho receio em dizer que é um marco no cinema nacional. Entre um verdadeiro festival de risos e humor, aliado a uma fotografia belíssima de encher os olhos e a uma montagem excelente, O Palhaço também é capaz de nos levar as lágrimas com suas mensagens. Afinal, todos nós devemos fazer aquilo que sabemos e gostamos de fazer. Eu gosto de escrever, e você?

Rodrigo Barros

Sociólogo e às vezes filósofo de esquina; louco por teoria, livros e psicanálise. Escreve sobre política, sociedade, literatura e outras coisitas mais (ou não).
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  • Vuador .

    Me lembrei de um discurso do épico fuxiquinho, ele dizia
    que, não importa a vida pessoal e os problemas de um palhaço, ele deve SEMPRE
    ser capaz de esquecer tudo e levar sorrisos para o publico. Arregaçaram no post
    o/

  • Boa critica, não assisti ainda, mas depois dessas belas palavras
    deu até vontade o// 

  • parece ser um bom filme. e o selton mello é um grande ator, tomara que ele vingue como diretor também

  • Anônimo

    Tem toda razão Rodrigo, infelizmente vivemos rodeados de babacas preconceituosos que insistem em nomear os filmes nacionais como “filme brasileiro”, como se fossem de um país diferente. Falam com desprezo, num preconceito burro e puramente sem razão, pois com certeza não sabem nada sobre a evolução do cinema nacional. Temos filmes toscos? Claaaaaro que temos, e muitos, o cinema no Brasil começou a ter qualidade apenas de alguns anos pra cá, mas isso não significa que não evoluiu.
    Gostei da crítica e acredito que opiniões expostas dessa forma podem ajudar no analfabetismo cinematrográfico de muitos brasileirinhos metidos à americanos.
    Pronto, falei.