Quem vê cara

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Giovana Cabral

“Se o senhor não tá lembrado, dá licença de contá”

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Na próxima vez que te perguntarem o que é o amor, não dê uma resposta automática que resolverá de pronto o vil questionamento. Tudo bem que você ame pessoas, coisas, fatos, acontecimentos, dias ou melodias. Explicar o amor é tão difícil quanto querer saber, sem que haja racionalidade no discurso, como o mundo foi realmente formado.

Teorias científicas podem explicar quase tudo. Aproveito e deixo um aviso: se você é descrente, será ainda mais fácil acreditar em tudo o que os cientistas são capazes de provar em pesquisas de laboratório. E ninguém aqui está julgando isso.

Quando penso no amor, esse tema que vez ou outra é a centralidade do que queremos encontrar, tenho que redimensionar o cenário para alcançar um exemplo relativamente palpável.

No universo fantasioso do escritor Tolkien existem diferentes elementos que podemos ordenar para tentar contextualizar o tema. Temos, naquela estória, povos distintos que se unificam de forma inusitada, a reconhecida jornada do herói que desafia qualquer caminho até um destino incerto e, não menos importante, um rei que finalmente toma posse do que é seu sem medir esforços para tal.

E, simultâneo a isso, existe o Necromante, este que causa alguma incerteza sobre sua preponderância sobre a terra média. Essa necromancia atinge vários pontos, como se fosse uma massa negra influenciável que a cada um aborda de uma forma, mudando estilos, metas e direções. É a energia que move tanto um só ser quanto um exército deles.

O amor é como essa energia estranha.

Despindo-se da divisão que há entre maldade e benevolência, por mais que você tente dissecar vida e obra do autor e queira entender cada um dos personagens que ele criou, infelizmente ou felizmente, nunca lhe ocorrerá a resposta verdadeira. Nunca.

Ele morreu. Os personagens são inanimados, mesmo que o cinema queira dizer o contrário. Criador e criatura não terão mais essa conexão ou, melhor dizendo, criador e fãs de suas criaturas jamais vão se unificar.

E, mesmo assim, a gente acredita no que não vê simplesmente porque algo ali desperta um interesse profundo. Essa é uma típica afeição que se fundamenta na incredulidade. Isso é amor. O mesmo amor que faz acreditar que Tolkien era gênio, não lunático. Que o herói vai chegar ao final da trajetória e não morrer no passo seguinte. A mesma certeza de que o rei vai ser próspero para o povo que o aguarda. Talvez, as pessoas que não conseguem acreditar – nem no amor e nem na fantasia que a gente usa para vestir a realidade – apenas não sejam fãs disso ou daquilo.

Esse tipo de sentimento a gente não escolhe ter, não classifica para quem oferece e não tem alternativa ao tentar ocultar. Ele brota e isso é notável pelo entusiasmo.

É a mesma sensação que a gente tem para seguir adiante assim como os Uruk-Hai: sem o medo da possível degradação, só com a armadura da frente e a filosofia que a sustenta.

Mas isso fica pruma outra hora.

está ansiosa pelo dia em que vocês pedirão um texto e eu vou escrever três.

Giovana Cabral

Apenas uma "small town girl" com contrações ventriculares prematuras. Blogueira nas horas vagas, cardiopata em tempo integral!
  • Pedro

    Encaixo-me como descrente, mas gostaria de sentir essa “energia estranha”. Talvez um dia…

    P.S.: Quero pedir um texto (ansioso pelos três).