Título: Misto-Quente
Autor: Charles Bukowski
Editora: L&PM
N° de páginas: 320
Muitos de nós já tivemos momentos bons e momentos ruins em nossas vidas, mas se deparar com alguém que parece ter andando na lama quase a vida inteira surpreende qualquer um. Não que não saibamos que muitas pessoas têm vidas difíceis, mas no nosso dia a dia costumamos ignorar os miseráveis que nos abordam na rua. Escolhemos não enxergar os que “se perderam no caminho” e ao ler este livro não temos essa escolha; só podemos sentir um pouco de cada momento da vida desses indivíduos. Momentos de desgraça, ódio e amargura. Talvez seja isto que torna o livro “Misto-Quente” (L&PM) um dos melhores – se não o melhor – trabalho do escritor Charles Bukowski (1920 – 1994).
Para os que não conhecem a obra do autor, ela é densamente autobiográfica. O protagonista de seus principais romances, Henry Chinaski, parece ser a cópia perfeita do autor quando mais novo, nas épocas em que tentava ser bem sucedido como escritor e, frente ao fracasso, se entregava a bebida e caía em seus porres homéricos que quase lhe tiraram a vida várias vezes.
Mas em Misto-Quente não o veremos em sua fase adulta, e sim em sua juventude. Seu pai é um ser intimidador, autoritário e violento, enquanto que sua mãe é carinhosa, porém passiva frente às atitudes do marido. Chinaski sofrerá os principais temores e problemas que qualquer garoto irá sofrer: as brigas, os rígidos professores, as espinhas que não param de surgir, o primeiro copo de cerveja, a primeira garota, etc. Chinaski, no entanto, não adquire uma visão de futuro para si. Ele só vê a desgraça e mal liga para o que os outros pensam ou deixam de pensar.
A bebida e os clássicos da literatura se tornam seus melhores amigos enquanto se esconde dos outros ao ver que suas espinhas começam a deformar seu rosto. As cobranças dos pais não o motivam, só fazem com que afunde cada vez mais num poço sem fim, enquanto seus antigos amigos entram para faculdades e fazem planos para o futuro.
As páginas serão devoradas por qualquer leitor que saiba valorizar um rico e sagaz humor que somente Bukowski, o último dos escritores malditos, sabia criar. A simplicidade e a sinceridade estão presentes nas palavras de alguém problemático e sem perspectiva alguma. O cotidiano se torna poesia, o fracasso se torna sedutor, a vida se torna um desgosto.
Quem não leu Misto-Quente, não leu Bukowski.
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