Trinta e poucos

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O cronista é aquele capaz de notar o inusitado e o fantástico no mais cotidiano dos dias. Antonio Prata desempenha muito bem esse ofício em Trinta e Poucos, mais uma coletânea de seus textos publicados originalmente em jornais. Como bem destaca a capa do livro, a fama do cronista não dura muito: nos domingos todos de deleitam com o que escreveu, para que nas segundas-feiras a mesma página passe a enrolar peixe no mercado ou cobrir o chão da obra.

Nada mais justo do que reunir muitas dessas crônicas num livro publicado pela Cia. das Letras, para o agrado dos leitores (e do próprio autor). Prata nos leva em sua epopeia rumo aos acontecimentos mais presentes nas vidas dos sujeitos de trinta e poucos anos, herdeiros de uma classe média com educação de esquerda e que optam por ter filhos beirando os quarenta, para o próprio desespero.

O destino das nossas meias em gavetas bagunçadas, uma fruta que não comemos faz tempo, as perguntas que as crianças nos fazem, ex-namoradas que nos marcaram, a fatura de banco de outra pessoa que vem parar no seu endereço por engano, as dificuldades de se conciliar trabalho e cuidar dos filhos, a conversa com o taxista … Tudo que perpassa a vida de muitos de nós, mas que nunca paramos para notar o que aquilo pode nos contar, ocupados demais em enxergar beleza apenas naquilo que ainda não temos.

Trinta e Poucos é sem dúvida uma leitura gostosa, rapidíssima (terminei o livro em duas noites), que algumas vezes te deixará pensativo, como também te fará rir bastante com suas toneladas de sarcasmo e ironia.

Título: Trinta e poucos
Autor: Antonio Prata
Editora: Companhia das Letras
N° de páginas: 232

Rodrigo Barros

Sociólogo e às vezes filósofo de esquina; louco por teoria, livros e psicanálise. Escreve sobre política, sociedade, literatura e outras coisitas mais (ou não).