Um Cântico para Leibowitz

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capa_canticoO mundo como conhecemos acabou. O ser humano finalmente conseguiu extinguir toda a civilização e a ciência foi quem recebeu a culpa, sendo perseguida e tendo todo o seu conhecimento quase completamente destruído pela Simplificação. Quase. O que sobrou, a ordem dos monges de São Leibowitz se ocupa em reunir, catalogar e proteger para que no futuro possa servir à humanidade.

Um Cântico para Leibowitz, escrito por Walter Miller Jr,  nos mostra  uma ordem religiosa que tenta a todo custo salvar o saber, numa epopeia para salvar a humanidade de si mesma. Perpassando a nossa civilização, o seu declínio e o seu ressurgimento, sem nunca esquecer aquilo que nos é tão presente: a violência, a nossa inclinação para a autodestruição. O livro é dividido em três partes com intervalos de 600 anos entre cada uma, relatando na primeira o cenário que se passa depois do grande Dilúvio de Fogo, o grande holocausto nuclear que levou os humanos de volta a idade da pedra. Na segunda parte, temos o ressurgir da ciência numa referência ao iluminismo; e na terceira e última temos a humanidade saindo dos limites da terra, indo em direção ao espaço e ao desconhecido.

Com uma escrita fluida e coerente, sem perder o ritmo, um dos grandes méritos desse livro é colocar em dúvida as ideias de progresso e razão, sem diminuir a importância da ciência, mas sim colocando em jogo os usos que fazemos da mesma. A religião também marca presença, numa escrita onde o latim aparece várias vezes num mundo cheio de referências ao catolicismo romano. Mas sem pânico para nós, leigos que não entendemos a língua morta, pois um glossário generoso traduz todos os termos, sem deixar ninguém no escuro.

Ganhador do prêmio Hugo de 1961, Um Cântico para Leibowitz é uma excelente viagem pelos nossos instintos, nossa história e nosso futuro.

Rodrigo Barros

Sociólogo e às vezes filósofo de esquina; louco por teoria, livros e psicanálise. Escreve sobre política, sociedade, literatura e outras coisitas mais (ou não).
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