American Crime Story – 1° Temporada

THE PEOPLE v. O.J. SIMPSON: AMERICAN CRIME STORY "Conspiracy Theories" Episode 107 (Airs Tuesday, March 15, 10:00 pm/ep) -- Pictured: (l-r) Sterling K. Brown as Christopher Darden, Cuba Gooding, Jr. as O.J. Simpson. CR: Ray Mickshaw/FX

Ryan Murphy colocou em prática sua mais nova e ousada antologia, intitulada American Crime Story (FX). Com temporadas independentes, o seriado pretende retratar acontecimentos reais que marcaram a história americana de forma traumática, e a escolha para a estreia foi o julgamento de OJ Simpson.

No dia 12 de Junho de 1994 , a polícia de Los Angeles recebeu um chamado de urgência num dos bairros mais nobres da cidade, o Brentwood. Um homem e uma mulher foram brutalmente assassinados e seus corpos foram achados na frente de uma residência. Das vítimas, quem mais se destacava era a mulher, Nicole Brown, ex-esposa do famoso jogador de futebol americano e ator OJ Simpson, que morava bem próximo da cena do crime.

Não tardou para que a polícia começasse a suspeitar do próprio OJ Simpson. Rastros de sangue foram encontrados em seu carro, assim como em vários cômodos da casa do astro. Posteriormente, outras evidências foram se amontoando contra o jogador: um par de luvas ensaguentado (uma na cena do crime e outra em sua casa), testes de DNA comprovando haver cabelo e sangue do jogador na cena do crime, pegadas, e um histórico de violência doméstica que Nicole sofria quando era casada com ele. Não faltavam provas para incriminá-lo e a polícia pediu sua prisão.

Mas OJ não se entregou tão fácil. Contratou advogados para despistar os investigadores até o limite e então se meteu num carro e fugiu, sendo perseguido logo em seguida. Sua fuga foi televisionada e se tornou um verdadeiro espetáculo, com várias pessoas manifestando apoio a OJ nas vias por onde passou. A polícia de Los Angeles era conhecida por suas práticas racistas, e um negro famoso e rico sendo perseguido por várias viaturas chamou atenção de muitas pessoas para um possível abuso por parte das autoridades. Além disso, não fazia muito tempo que a cidade fora balançada por manifestações civis contra a violência e preconceito cometidos pelos policiais.

OJ se entregou, mas a tensão que provocou nas pessoas abriu uma brecha para a sua defesa. Seus advogados resolveram usar a questão do racismo como principal suporte para absolver seu cliente. “O julgamento do século” se tornou um verdadeiro fenômeno em rede nacional, sendo transmitido ao vivo e atingindo altíssimos pontos de audiência. O judiciário americano nunca havia experimentado tamanho alvoroço.

O seriado se destaca por sua fidelidade ao retratar cada passo desse caso. Rapidamente somos capturados pela trama que nos faz querer assistir um episódio atrás do outro, mesmo quando já sabemos qual é a conclusão (afinal, estamos falando de acontecimentos reais). A crueldade da mídia e os discursos machistas contra a promotora, a recepção da população a cada passo do julgamento, o comportamento do juri escolhido e as inúmeras reviravoltas de dar inveja a qualquer enredo ficcional marcam, comovem e chocam quem assiste, além de causar indignação. Em paralelo com “Making a Murderer” (Netflix), onde todos se revoltam pela suposta inocência do protagonista, aqui acontece o movimento contrário. OJ Simpson parece mais do que culpado.

As atuações do seriado são primorosas, com exceção de um John Travolta bizarro e caricato que nos faz pensar sempre o quão estranho ele está. Cuba Gooding Jr também dividiu opiniões da crítica: para alguns ele não fora carismático o suficiente na interpretação de OJ. Mas nada disso tira o brilho do conjunto.

American Crime Story entra para o hall de seriados de alto nível, e sua segunda temporada já foi confirmada. O tema será os crimes de negligência do governo americano com as vítimas do furacão Katrina, e tem tudo para promover tanta comoção e revolta quanto sua espetacular primeira temporada.

Rodrigo Barros

Sociólogo e às vezes filósofo de esquina; louco por teoria, livros e psicanálise. Escreve sobre política, sociedade, literatura e outras coisitas mais (ou não).